quinta-feira, junho 04, 2009

Desabafo I

Um soco no estômago. Daquele bem na boca mesmo!!!

ODEIO quando me pego na expectativa.
ODEIO mais ainda quando essa não se realiza, se concretiza.

Hoje aconteceu isso!
Tentei me policiar, até falei pra mim: "calma, não pense que é pra você ...PÁRA de pensar!".
Mas não deu muito certo.
Enfim, bora ver no que vai dar.


Só peço que não levem o "odiar" ao pé da letra.


P.s: Sem esmaltes por hoje!

terça-feira, junho 02, 2009

Uma crônica - Por Inaê Lara

Era ele, o meu vizinho

Edifício São Vicente
Era ali que nos encontrávamos, mas nunca estávamos juntos, respirando o mesmo ar, vendo as mesmas coisas ou sentindo, quem sabe, os mesmo cheiros.
Como era possível estarmos no mesmo lugar, porém não estar?
Separados apenas pela altura, metros, um andar, um botão no elevador e 17 degraus, sim, eu contei.
Todos os dias minha rotina era a mesma: ouvi-lo, tentar imagina-lo e senti-lo.
Seus passos eram simetricamente acompanhados por mim, ali acima da minha cabeça, dos meus móveis, dos meus quadros, do meu apanhador de sonhos pendurado na porta da sacada.
Eu sabia tudo o que ele fazia.
Na maioria das vezes ouvia som, tinha um gosto musical incomum, gostava de rock das antigas e sempre acompanhava os tais cantores em seus timbres, apesar do seu nunca ser igual.
Da mesma forma a TV. Sempre ligada e em canais também incomuns. Ah, eu já consegui distinguir 2 canais em especial.
Esses dias tentou fazer algo para comer (ele sempre pede comida fora), mas creio que não deu muito certo. Foi uma graça! Quem dera se eu pudesse...
Há cerca de 7 meses o observo, o aguardo, o imagino e o sinto tão perto, mesmo que esteja distante. Separados apenas pela altura, metros, um andar, um botão no elevador e aqueles tais 17 degraus, que, sim, eu contei.
Não agüento mais!
Às 24 horas do dia passo aflita, acordo logo cedo, ouço seu modo de levantar, ir ao banheiro, comer algo e se sentar (ele trabalha em casa como eu), as 2 horas seguintes são agonizantes, quero conversar com ele!
Hora do almoço, eu preocupada com o que fazer, ouço sua voz ao telefone pedindo o cardápio de sempre e minutos depois atende a porta, seu pedido chegara.
Come, faz a pausa para o cochilo e volta a trabalhar. Daí pra frente é tudo sempre igual: cadeira rangendo a cada empurrada para se mover, voz alta ao telefone, um pouco de som e no fim do dia de trabalho iniciasse a “hora” só dele. Eu, sua fiel platéia, já estou a postos na minha poltrona para escutá-lo.
Como eu disse, não agüento mais! É chegado o dia do passo a frente, já havia arquitetado tudo. Como seria, o que falar, o que fazer e até mesmo como reagir. Estava tudo certo.

Fui ao andar de cima, pelas escadas, fora assim que soube que se tratava de 17 degraus. Toquei sua capainha, esperei um pouco, aflita, meu coração batia acelerado, descompassado até. Eu suava, tremia um pouco, também, o que queria? Era ELE quem ia abrir a porta e me receber a poucos instantes depois daqueles 7 meses.

Fora tudo muito rápido, ele abriu, sorrimos como cumprimento, falei quem eu era e ele me convidou a entrar.
Primeira etapa cumprida! Eu estava me saindo muito bem, por sinal.
Mal entrei e confirmei o que pensava ser aquele lugar. A porta se fechou e como eu havia planejado com meses de antecedência, me virei e fiz o que estava preparada para fazer. Dei vários, vários golpes de faca naquele cretino e nojento porco asqueroso.


Todos os dias minha rotina era a mesma: ouvi-lo, tentar imagina-lo e senti-lo.
Seus passos eram simetricamente acompanhados por mim, e como não seriam? Ali acima da minha cabeça, dos meus móveis, dos meus quadros e blá blá blá. Passos insuportáveis, irritantes, parecia fazer questão de assim faze-los.

Quando o desgraçado ouvia som eu queria morrer ou simplesmente arrancar meus ouvidos e joga-los bem longe. Aquele som “incomum”, super alto, cheio de gritos e guitarras ensurdecedoras era completado pela sua voz miserável e provocadora de uma agonia terrível. Cansei de comprar tampões para meus ouvidos, colocar travesseiros em cima da cabeça. Não adiantava, não dava!
Sua TV tava mais para “24 horas de sexo constante”, nem intervalos parecia ter. Antes eu amaldiçoava as pobres TVs a cabo, agora sei que foram as malditas locadoras de DVD.
Aquele porco comia só enlatados, embutidos, engordurados, ensacolados e no tal dia lá que tentou cozinhar. Foi uma graça! Uma verdadeira DESGRAÇA.
Quem dera se eu pudesse... Hoje soube que pude e achei mais graça ainda!
7 meses sofrendo. Não agüentava mais!
Perdi meu emprego, era escritora, trabalhava em casa com minha mesa ergometricamente correta, um computador maravilho e minha caneca de chá. Estava tudo perfeito. Mas ele tinha que se mudar e estragar.
Perfeito! Agora tenho uma história ótima para meu novo livro, porém estou com dificuldades para achar um lápis, já que este está acabando... Ahh, e mais papel também! Quem me dera um computador, mesmo daquele ruimzinho de uns 10 anos atrás.
Bom, se eu me comportar bem, quem sabe?! Se até lápis e papel já consegui.
Tenho que ir, já está quase na hora das luzes se apagarem e o carcereiro já achou suspeito da última vez que tentei escrever no escuro.

P.s.: Essa minha companheira de cela da cama acima, bem que podia roncar menos, ou parar completamente.


Inaê Lara :*

Esmalte no pensamento de ser pintado:
"Carmim"